Karo significa excesso de trabalho; e shi, morte. No Japão, o termo é utilizado para definir “morte por excesso de trabalho”.
Karojisatsu é o suicídio em decorrência do caráter extenuante do trabalho.
O primeiro caso de Karoshi foi registrado no Japão em 1969.
Em 2007, a Corte de Nagoya reviu a
decisão do Ministério do Trabalho que havia recusado benefícios à viúva
do ex-funcionário da Toyota Motor Kenichi Uchino, que morreu em 2002
por excesso de trabalho, trazendo novamente à mídia a tragédia que tem
ceifado a vida dos empregados asiáticos.
No Japão, há até bem pouco tempo, as
horas extras eram consideradas como trabalho voluntário, não sendo,
portanto, remuneradas. A decisão da Corte de Nagoya significou um
importante passo no sentido de pressionar mudanças nas leis
trabalhistas locais para acabar com as chamadas “extraordinárias
livres” (trabalho que um empregado é obrigado a executar, mas pelo qual
não recebe).
Mas por que estou falando de algo que ocorre do outro lado do mundo?
Depois da globalização não há mais o
“outro lado do mundo”. Há apenas o mundo. E nós não estamos tão imunes
assim ao que acontece longe daqui.
Um certo fenômeno está ocorrendo em
alguns países, inclusive no Brasil, nos quais, apesar do que está
definido em lei, as horas extras vêm perdendo o sentido de trabalho
extraordinário e ganhando um significado de trabalho diário a mais, ou
seja, no dia-a-dia já se trabalha normalmente além da jornada de
trabalho.
Sentimo-nos quase na obrigação de
estarmos disponíveis o tempo todo, com receio de que algo dê errado
porque não atendemos o celular ou não respondemos aquele e-mail.
Em fevereiro, o bilionário taiwanês Terry Gou, o dono da Foxconn, cuja fábrica no Brasil
está instalada em Jundiaí, ironizou o país em um programa de TV,
afirmando: “(…) o Brasil apenas me oferece o mercado local (…) Os
brasileiros não trabalham tanto, pois estão num paraíso”. Trabalhamos
pouco?
A Foxconn é responsável pela montagem
de equipamentos para Apple, HP e Nokia, entre outras, e já recebeu
inúmeras criticas por desrespeitos aos seus funcionários mundo afora.
Somem-se a isso os mais de 20 casos isolados de suicídios, desde 2010,
entre trabalhadores da empresa.
No Brasil, ainda não há registros oficiais de karoshi ou karojisatsu,
embora os casos de afastamento por depressão tenham aumentado
significativamente nos últimos anos. Devemos parar um pouco para pensar
que as relações de trabalho estão sofrendo mudanças e que precisamos
nos adaptar, preservando, porém, nossa qualidade de vida e,
consequentemente, nossa saúde física e mental.
O sociólogo Ricardo Antunes publicou, em maio, um artigo muito interessante sobre as ameaças que vêm da Ásia, no qual fala sobre o assunto em questão.
Definitivamente, devemos estar atentos. O “paraíso” corre perigo.
Se essa moda pega!!!!! Já pensou horas extras voluntárias? Vou dar muitas aulas de sociologia extras!!! Será que vcs assistirão. Só vale se for sem celular na mão.....
ResponderExcluirJuli Braga